Bem-Vindos a Igreja de Cristo

junho 30, 2010

Flash mob

As grandes cidades do mundo testemunham um fenômeno que causa espanto: uma multidão aparece do nada, começa a fazer algo inusitado e desaparece do mesmo jeito que chegou

Por Marcelo Cypriano

Provavelmente você já ouviu falar em flash mob. Se não ouviu, a palavra em inglês que junta flash (rápido) e mobilization (mobilização) designa aglomerações instantâneas de pessoas, em locais geralmente públicos, para ações rápidas previamente combinadas. Tão rápido quanto apareceram, as pessoas se dispersam. Hoje em dia, a divulgação do encontro é feita por meio da internet (redes sociais, blogs e sites), mensagens de texto em telefones celulares e, um pouco, como antigamente, no bom e velho boca a boca.

Mas como assim “antigamente”? O flash mob não é um fenômeno típico desta geração antenada com os recursos da internet? Sim e não. A ideia de ação conjunta que começa aparentemente do nada e rapidamente se dispersa é muito mais antiga do que muitos pensam. O termo em inglês foi usado bem no início do século 19, lá por volta de 1800, para descrever as detentas de uma colônia prisional na Tasmânia, Austrália. Flash era o apelido que os carcereiros deram a elas, pelo modo rápido de falar característico das classes mais baixas. Flash mob significava então outra coisa, nada a ver com o termo de hoje: era a classe menos favorecida daquele país, chamada assim em tom pejorativo (de mob: plebe, gentalha). Mas o termo designando movimentação quase instantânea de um grupo foi usado novamente na primeira década deste século, com este atual sentido.

Marcas na história

Mobilizações rápidas de pessoas marcaram a história. Alguns exemplos bem claros são a tomada da Bastilha em Paris (1789), ponto chave da Revolução Francesa. Na mesma Paris, em 1968, uma histórica revolta estudantil começou quando universitários se rebelaram contra a Universidade Paris X, que vetou a entrada do psicanalista austríaco Wilhelm Reich a uma palestra que ministraria. Vários outros setores da sociedade aderiram ao protesto nos dias seguintes, e 1,5 milhão de pessoas participaram de uma marcha contra o governo de Charles De Gaulle, aproveitando o ensejo para reivindicar direitos em vários âmbitos.

Chegando o século 21, o termo flash mob ganhou ares mais modernos e pacíficos. O primeiro movimento deste tipo registrado foi organizado em junho de 2003, em Nova York, via e-mail. Bill Wasik, escritor e jornalista da revista Harper’s, mandou uma mensagem eletrônica para cerca de 50 amigos (sem que soubessem que era ele, com um endereço de e-mail criado para a ocasião) para que comparecessem em frente a uma famosa loja de acessórios femininos sem um objetivo claro. A ideia de Wasik era que o próprio grupo se tornasse o show, criando algo simplesmente por estarem juntos (algo comum em Manhattan, para o bem e para o mal), sem uma liderança definida. Mas a loja soube antes e acionou a polícia, que frustrou o movimento.

O segundo mob foi logo depois, no mesmo mês, mas daquela vez o jornalista e amigos mobilizaram as pessoas poucos minutos antes, não dando tempo de qualquer repreensão pelas autoridades. Mais de 100 pessoas reuniram-se no nono andar da famosa loja Macy’s, e não causaram transtornos aos outros compradores, em confraternização. Wasik usou os encontros para estudar o fenômeno da comunicação viral e seu efeito tanto nos frequentadores como em quem testemunhava de fora. Sete outros flash mobs foram realizados com sucesso por ele e seu grupo, com objetivos diferentes, de simples festas a campanhas filantrópicas.

Uns úteis, outros nem tanto

Hoje, os flash mobs são bastante comuns em várias grandes cidades do mundo, com objetivos inúteis, visando somente a diversão, como uma famosa guerra de travesseiros anual feita até mesmo no Brasil, ou até mesmo de protesto, como um recente realizado pela organização não-governamental ecológica Greenpeace em vários pontos do planeta. Outros foram criados com o tempo, como o “zombie walk” (caminhada dos zumbis) em que pessoas vagam pelo centro da cidade fantasiadas como mortos-vivos, e as populares “subway parties” (festas no metrô), em que de repente um grupo ocupa um vagão inteiro com música e dança. O “Frozen Grand Central” leva centenas de pessoas a permanecer “congeladas” por um minuto no terminal de transportes urbanos que lhe dá nome (imitado em outros lugares do mundo) e outros ainda levam manifestações de arte ao povo que circula pela urbe, sempre de surpresa para a maioria. Outros são feitos simplesmente para gerar polêmica, como um encontro em metrôs de todo o mundo em que os participantes simplesmente ficam sem calças, com roupas de baixo à mostra, sem um sentido claro para o “protesto” irreverente. Em alguns países, os encontros rápidos têm cunho de manifestação de descontentamento com o regime político vigente. Podem ser danças, performances de artes plásticas, piqueniques, poesias recitadas, dramatizações, homenagens a celebridades, evangelismo ou até mesmo discussões literárias, todos com a mesma característica final: rápida dispersão.

Alguns inúteis, outros nem tanto, geralmente os flash mobs têm cunho pacífico e podem chamar a atenção para uma causa, ou mesmo para um produto em ações publicitárias, como uma recente “chuva de chocolate” realizada em um domingo por uma marca famosa em plena Avenida Paulista, ponto turístico da maior cidade do Brasil. Mas não confunda flash mobs com outros eventos previamente marcados. Este tipo de movimento tem o caráter de ser rápido e gratuito, ao contrário de outros.

Emoção na hora do rush

Um flash mob que marcou a publicidade mundial foi feito por uma fabricante europeia de telefones celulares. No final de abril de 2009, milhares de cidadãos de Londres, na Inglaterra, receberam mensagens de texto SMS em seus aparelhos móveis para estar às 18 horas na praça Trafalgar, a principal da cidade, para algo que não sabiam exatamente o que. No dia e hora marcados, os organizadores ficaram surpresos: esperavam cerca de 2 mil pessoas, e estavam na Trafalgar mais de 13.500, muitas ainda em roupas de trabalho ou uniformes escolares, pastas e mochilas à mão. Os torpedos foram enviados para cerca de 2 mil, mas estas mandaram a outras, que mandaram a outras. Além de gente desavisada que simplesmente passava por ali após um dia cheio no trabalho e acabou ficando. A surpresa foi boa para ambos os lados, pois os que compareceram foram convidados a um karaokê gigante em que cantariam, com microfones distribuídos na hora, a canção “Hey Jude”, dos Beatles. O centro londrino parou para ouvir as vozes de milhares de pessoas no que virou uma enorme e emocionante confraternização. Pessoas de várias etnias, idades, classes sociais e filosofias de vida cantavam (sorrindo!) ao mesmo tempo, dividindo microfones (muitas vezes com desconhecidos), acompanhando a letra da música projetada em uma grande tela. Da marca de telefone mesmo, ninguém faz muita questão de se lembrar. Mas a enorme festa, em que o povo realmente aproveitou o espaço urbano e o fez mais feliz por alguns minutos, entrou para a história de uma cidade cujo povo tem a fama de frio e esnobe. E, vale repetir: não havia sequer um cantor improvisado (inclusive gente famosa) sem um sorriso no rosto. Confira você mesmo no vídeo abaixo:

Seja por mera diversão aparentemente sem sentido ou em prol de causas nobres, os flash mobs usam a internet para fazer os contatos serem mais do que somente virtuais, como é comum pensarmos. Eles usam algo que aparentemente isola as pessoas fisicamente (a própria web) para uni-las. Pelo sucesso, parece que é algo que veio para ficar, e não somente mais um fenômeno que sumirá rapidamente do mesmo jeito que apareceu, assim como fazem seus participantes.

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